Sempre fui apaixonado por esse universo profissional dos alimentos, e todas as oportunidades e desafios que ele traz para quem o aceita como profissão de vida.
No entanto, mesmo há quase 06 anos em indústrias de alimentos, o sentimento percebido de que a área da qualidade e segurança dos alimentos não era “lucrativa”, ou seja, por ouvir que só servíamos para solicitar:
- Verbas para investimentos estruturais;
- Verbas com análises laboratoriais;
- Verbas para auditorias;
- Verbas para contratação de mão-de-obra para inspeções da qualidade e tantas outras;
Me incomodava muito, pois, eu, juntamente com o time da área entendíamos a importância de cada investimento realizado, cada ação tomada, até que me dei por conta que seria necessário eu tornar esses valores não percebidos monetariamente em valores reais, concretos.
Por exemplo, você já passou por alguma situação em que te oferecem um produto, o qual achou que não valeria o preço que estavam cobrando? Ou o contrário, quando você compra algo que vale cada centavo investido, devido ao custo-benefício apresentado pelo produto/serviço?
Pois bem, essas conotações nos conduzem ao conceito de
VALOR PERCEBIDO OU NÃO, e isso se aplica de maneira geral em nossas rotinas diárias, como por exemplo nas atividades de casa, ou você nunca ouviu o injusto comentário “Ela não trabalha, é do lar”, trata-se de um valor não percebido, pois a referida atividade não gera lucros efetivos, no entanto, qual é a economia gerada por não se precisar contratar uma profissional específica para manter sua casa devidamente organizada?
Da mesma forma se aplica ao âmbito profissional, onde em vários momentos realizamos atividades, ou solicitamos investimentos/melhorias, que a priori, não parecem ser rentáveis ou geradoras potenciais de lucros efetivos, e quando falamos especificamente do setor da Qualidade e Segurança dos Alimentos, isso se torna um verdadeiro e grande desafio, justamente pela grande demanda de ações desse patamar.
Podemos reverter esse cenário de valor não percebido, criando uma estratégia de comunicação, assim como no mundo das vendas, temos que vender nosso peixe e para isso vale seguir os seguintes passos:
PASSO 1: CONTROLE SEUS INVESTIMENTOS, grande parte das empresas possuem um controle orçamentário, geralmente feito anualmente, e nele constam os possíveis investimentos que serão realizados, é importante que você gestor da Qualidade e S.A., segregue os que possuem efeito direto em sua área, muitas vezes é cobrado em auditorias, no entanto, esse controle lhe ajudará a montar sua estratégia de comunicação e valor percebido perante a alta direção;
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Figura 1. Esboço Planilha de Controle de Investimentos. FONTE: Autor.[/caption]
PASSO 2: TORNE SEUS VALORES PERCEBIDOS, não é segrego que os donos, alta direção, investidores são atraídos por números, e esse é o momento de você buscar o máximo de dados possíveis, sempre em fontes seguras (financeiro, controladoria), e fazer a devida análise monetária, payback, lucros e economias.
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Figura 2. Controle de Investimentos, com análise dos benefícios. FONTE: Autor.[/caption]
Na figura 2 temos a solicitação de compra de um equipamento medidor de gases para embalagens com atmosfera modificada.
Teoricamente o mesmo não irá produzir, não gerará receita direta por sua atividade de análise exercida, temos então um aparelho com valores não percebidos, e o desafio é evidenciá-los e os tornar percebidos.
No exemplo, onde utilizo valores fictícios, consideramos dois benefícios fundamentais, sendo eles:
- GIRO DE ESTOQUE RÁPIDO: com a referida atividade desenvolvida pelo equipamento, o tempo de retenção de produto acabado diminui consideravelmente, e de maneira hipotética, se diminuirmos um dia, isso significaria R$100.000,00 de produtos que não estariam parados e sim sendo faturados, gerando receita;
- DIMINUIÇÃO DE REPROCESSO/PERDAS: o equipamento nos permite realizar medições em curtos espaços de tempo (a cada 30 minutos, 1 hora, etc), quanto menor for esse período, menor será o custo com reprocesso/perda, ou até mesmo realização de um recolhimento e/ou recall.
Para uma situação hipotética, imaginemos que sem o aparelho, o resultado fique pronto somente no dia posterior ao da produção, em caso de não conformidade com o gás, teríamos que reprocessar todos esses produtos, o que significa, deixar de produzir R$100.000,00 (valor do custo do produto de todo o dia de produção) para acertar a falha do percentual dos gases, somado ao valor da perda das embalagens, pois todos os produtos devem ser abertos e reembalados e inda a perda do gás já utilizado na primeira produção não conforme.
Com isso, evidenciamos o custo/beneficio em adquirir o referido equipamento, com valores agora sim percebidos e de grande montante, em menos de um mês o equipamento se paga.
PASSO 3. APRESENTE OS RESULTADOS, as informações bem usadas e uma comunicação bem feita, conduzirão para uma melhor visibilidade do setor que até então era visto como o que gera custos altos para a formação de preço, essa inversão positiva, fará com que suas solicitações embasadas tenham mais créditos perante àqueles que possuem o poder do
SIM e do
NÃO para aprovação.
A missão não é fácil, a realidade nua e crua se mostra muito dura, porém, é muito prazeroso quando vemos nosso papel sendo cumprido e milhares de famílias consumindo produtos os quais somos corresponsáveis juntamente com todo um time de produção e administrativo pela Qualidade e Segurança, proporcionando assim momentos de felicidade ao entorno daquele alimento.
E você, o que pensa a respeito dos valores percebidos?
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Jhonatas Moraes é Consultor, Palestrante e Auditor na área da Qualidade e Segurança dos Alimentos, graduou-se em Química Industrial e se especializou em Gestão da Segurança dos Alimentos, com 10 anos de experiência em indústrias alimentícias dos segmentos: Bovinos, Ingredientes, Massas Frescas e Pratos Prontos Congelados, entre as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento e Qualidade.